Discurso de João Martins, deputado municipal do Bloco, na cerimónia municipal do 25 de Abril de 2024, no quartel da Serra do Pilar

Grândola, Vila Morena

Terra da fraternidade

O povo é quem mais ordena

Dentro de ti, ó cidade

Dentro de ti, ó cidade

O povo é quem mais ordena

Terra da fraternidade

Exmº Sr Presidente da Assembleia Municipal

Exmº Sr Presidente da Câmara

Senhoras e Senhores Deputados Municipais

Senhoras e Senhores Presidentes das Juntas de Freguesia

Autoridades Civis e Militares 

Minhas Senhoras e meus Senhores

1.

Este 25 de Abril é especial, muito especial.

E não só porque é o cinquentenário.

E não só porque é a última vez que podemos comemorar uma data redonda (como são os 25, 50, 75 anos) tendo connosco os militares e as gerações que fizeram a Revolução.

É especial também porque todos sentimos que as forças, as práticas e as ideologias derrotadas naquela madrugada inteira e limpa estão a tentar juntar novos contingentes para tirar a desforra por que anseiam há meio século.

Só se faz uma revolução quando é preciso derrotar alguém. A vitória do 25 de Abril teve o povo em massa como vitorioso, é certo, mas não nos podemos esquecer de que teve os apoiantes do antigo regime como derrotados.

Os derrotados de Abril não desapareceram, como por milagre. Eles sempre existiram. Andaram por aí, foram destilando lentamente o seu veneno contra a democracia, por vezes às claras, a maior parte das vezes dissimulando-se. Reproduziram-se e modernizaram-se. Atacam hoje em várias frentes.

Mas o objetivo é sempre o mesmo: vingarem-se da derrota de 1974. Prepararem a desforra e recuperarem os privilégios perdidos.

Neste dia 25 de Abril, do que se trata é de dar uma resposta firme, uma resposta muito forte e massiva a essas tentativas de regresso ao passado.

Temos um lema: a liberdade e o progresso social. Temos uma base programática: a Constituição da República Portuguesa. E temos uma força: um povo que não abdica dos seus direitos e todas as organizações e partidos que, na sua imensa e livre pluralidade, militam no campo largo e inclusivo da democracia.

2.

Saudamos com entusiasmo a quantidade sem igual de acções comemorativas que todo o país tem vivido nestes dias. Saudamos a quantidade e diversidade das iniciativas que também em Vila Nova de Gaia se estão a levar a cabo, como esta em que nos encontramos.

Mas não nos podemos esquecer: na tarde de hoje é preciso estar na rua. Em todo o país, por que o 25 de Abril de 1974 foi feito na rua.

Foi com especial agrado que recebemos a informação de que a segunda figura do Estado português, o social-democrata José Pedro Aguiar Branco, desfilará hoje na avenida, na grande manifestação. E fá-lo como presidente da Assembleia da República, em representação institucional.

Mas não é só em Lisboa que há uma avenida para descer.

Em Gaia também há. E nós alimentamos a esperança de que as nossas instituições locais, também elas filhas de Abril, sigam o exemplo que vem de cima e os seus mais altos responsáveis não chumbem por faltas neste momento histórico.

Assim como os partidos, todos os partidos que se identificam, cada um à sua maneira, com os valores de Abril.

Lembramo-nos de Mário Soares, com o cravo na mão, descendo a avenida, a considerar “extraordinária” a participação dos portugueses no desfile. Com Salgado Zenha, Tito de Morais e tantos outros. Saudamos a certeza de Pedro Nuno Santos de que não faltará à manifestação. E fazemos votos de que tais exemplos tenham frutificado nos corações de todos seus apoiantes gaienses.

E saudamos todas as outras esquerdas e organizações progressistas, das mais antigas às mais modernas, que nunca faltam às manifestações do 25 de Abril.

Hoje, à uma hora da tarde, encontramo-nos em frente à Câmara Municipal. À uma e meia, desceremos juntos a nossa avenida, de braço dado, orgulhosos de todas as nossas diferentes identidades, mas sabendo que todos juntos somos e que temos a força necessária.

Vamos até à PIDE no Porto, para nos juntarmos à grande manifestação da nossa região. Recusando a ideia tacanha e paroquial de que para lá do rio já não é a nossa terra. É, é também a nossa terra, e temos de nos juntar se queremos verdadeiramente construir uma terra da fraternidade.

Viva o 25 de Abril.

Fascismo nunca mais.